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JOGOS

http://www.papajogos.com.br/jogos-de-tiro/The_Sniper_2985.html


Poesias de Ricardo Reis
Poesias de Ricardo Reis

A Abelha


A abelha que, voando, freme sobre

A colorida flor, e pousa, quase

Sem diferença dela

À vista que não olha,


Não mudou desde Cecrops.  Só quem vive

Uma vida com ser que se conhece

Envelhece, distinto

Da espécie de que vive.

 

 

Ela é a mesma que outra que não ela.

Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! —

Mortalmente compramos

Ter mai vida que a vida.

 

Acima da Verdade

Acima da verdade estão os deuses.

A nossa ciência é uma falhada cópia

Da certeza com que eles

Sabem que há o Universo.

Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,

Não pertence à ciência conhecê-los,

Mas adorar devemos

Seus vultos como às flores,

Porque visíveis à nossa alta vista,

São tão reais como reais as flores

E no seu calmo Olimpo

São outra Natureza.


A Flor que És

A flor que és, não a que dás, eu quero.

Porque me negas o que te não peço.

Tempo há para negares

Depois de teres dado. 

Flor, sê-me flor! Se te colher avaro

A mão da infausta esfinge, tu perere

Sombra errarás absurda,

Buscando o que não deste.

 

Aguardo

Aguardo, equânime, o que não conheço —

Meu futuro e o de tudo.

No fim tudo será silêncio, salvo

Onde o mar banhar nada.

Aqui, Dizeis

Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro,

    Não 'stá quem eu amei. Olhar nem riso

   Se escondem nesta leira.

   Ah, mas olhos e boca aqui se escondem!

   Mãos apertei, não alma, e aqui jazem.

   Homem, um corpo choro!


Aqui

Aqui, Neera, longe                                      

De homens e de cidades,

Por ninguém nos tolher

O passo, nem vedarem

A nossa vista as casas,

Podemos crer-nos livres.

Bem sei, é flava, que inda

Nos tolhe a vida o corpo,

E não temos a mão

Onde temos a alma;

Bem sei que mesmo aqui

Se nos gasta esta carne

Que os deuses concederam

Ao estado antes de Averno.

Mas aqui não nos prendem

Mais coisas do que a vida,

Mãos alheias não tomam

Do nosso braço, ou passos

Humanos se atravessam

Pelo nosso caminho.

Não nos sentimos presos

Senão com pensarmos nisso,

Por isso não pensemos

E deixemo-nos crer

Na inteira liberdade

Que é a ilusão que agora

Nos torna iguais dos deuses.

 

Aqui

Aqui, neste misérrimo desterro

Onde nem desterrado estou, habito,

Fiel, sem que queira, àquele antigo erro

Pelo qual sou proscrito.

O erro de querer ser igual a alguém

Feliz em suma — quanto a sorte deu

A cada coração o único bem

De ele poder ser seu.


Ao Longe

Ao longe os montes têm neve ao sol,

Mas é suave já o frio calmo

     Que alisa e agudece

    Os dardos do sol alto.

Hoje, Neera, não nos escondamos,

Nada nos falta, porque nada somos.

     Não esperamos nada

    E ternos frio ao sol.

Mas tal como é, gozemos o momento,

Solenes na alegria levemente,

    E aguardando a morte

   Como quem a conhece.

Aos Deuses

Aos deuses peço só que me concedam

O nada lhes pedir.  A dita é um jugo

   E o ser feliz oprime

Porque é um certo estado.

Não quieto nem inquieto meu ser calmo

Quero erguer alto acima de onde os homens

   Têm prazer ou dores.

Antes de Nós

Antes de nós nos mesmos arvoredos

Passou o vento, quando havia vento,

E as folhas não falavam

De outro modo do que hoje.

Passamos e agitamo-nos debalde.

Não fazemos mais ruído no que existe

Do que as folhas das árvores

Ou os passos do vento.

 

Anjos ou Deuses

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,

A visão perturbada de que acima

De nos e compelindo-nos

Agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos

O nosso esforço, que eles não compreendem,

Os coage e obriga

E eles não nos percebem,


A Palidez do Dia

A palidez do dia é levemente dourada.

O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas

   Dos troncos de ramos Secos.

  O frio leve treme.

Desterrado da pátria antiqüíssima da minha

Crença, consolado só por pensar nos deuses,

   Aqueço-me trêmulo

  A outro sol do que este.

O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole

O que alumiava os passos lentos e graves

   De Aristóteles falando.

  Mas Epicuro melhor

Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre

Tendo para os deuses uma atitude também de deus,

         Sereno e vendo a vida

        À distância a que está.


Atrás Não Torna

Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve

Sua face, Saturno.

Sua severa fronte reconhece

Só o lugar do futuro.

Não temos mais decerto que o instante

Em que o pensamos certo.

Não o pensemos, pois, mas o façamos

Certo sem pensamento.

 

A Nada Imploram

A nada imploram tuas mãos já coisas,

Nem convencem teus lábios já parados,

No abafo subterrâneo

Da úmida imposta terra. 

Só talvez o sorriso com que amavas

Te embalsama remota, e nas memórias

Te ergue qual eras, hoje

Cortiço apodrecido.

   E o nome inútil que teu corpo morto

  Usou, vivo, na terra, como uma alma,

  Não lembra. A ode grava,

  Anônimo, um sorriso.


As Rosas

As Rosas amo dos jardins de Adônis,

Essas volucres amo, Lídia, rosas,

Que em o dia em que nascem,

Em esse dia morrem.

A luz para elas é eterna, porque

Nascem nascido já o sol, e acabam

Antes que Apolo deixe

O seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,

Inscientes, Lídia, voluntariamente

Que há noite antes e após

O pouco que duramos.


Azuis os Montes

Azuis os montes que estão longe param.

De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa,

Ou verde ou amarelo ou variegado,

Ondula incertamente.

Débil como uma haste de papoila

Me suporta o momento.  Nada quero.

Que pesa o escrúpulo do pensamento

Na balança da vida?

Como os campos, e vário, e como eles,

Exterior a mim, me entrego, filho

Ignorado do Caos e da Noite

Às férias em que existo.

 

Bocas Roxas

Bocas roxas de vinho, 

Testas brancas sob rosas,

Nus, brancos antebraços

Deixados sobre a mesa;

Tal seja, Lídia, o quadro

Em que fiquemos, mudos,

Eternamente inscritos

Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida

Como os homens a vivem

Cheia da negra poeira

Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem

Com seu exemplo aqueles

Que nada mais pretendem

Que ir no rio das coisas.


Breve o Dia

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.

Não tarda nada sermos.

Isto, pensado, me de a mente absorve

Todos mais pensamentos.

O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,

Que, inda que mágoa, é vida.


Cada Coisa

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. 

Não florescem no inverno os arvoredos,

Nem pela primavera

Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,

O mesmo ardor que o dia nos pedia.

Com mais sossego amemos

A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra

Mas porque a hora é a hora dos cansaços,

Não puxemos a voz

Acima de um segredo,

 

E casuais, interrompidas, sejam

Nossas palavras de reminiscência

(Não para mais nos serve

A negra ida do Sol) —

Pouco a pouco o passado recordemos

E as histórias contadas no passado

Agora duas vezes

Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida

Com outra consciência nós colhíamos

E sob uma outra espécie

De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, à lareira, como estando,

Deuses lares, ali na eternidade,

Como quem compõe roupas

O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso

Nos traz às vidas quando só pensamos

Naquilo que já fomos,

E há só noite lá fora.


Cada dia sem gozo não foi teu

Cada dia sem gozo não foi teu

Foi só durares nele. Quanto vivas

Sem que o gozes, não vives.

Não pesa que amas, bebas ou sorrias:

Basta o reflexo do sol ido na água

De um charco, se te é grato.

Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas

Seu prazer posto, nenhum dia nega

A natural ventura!


Cada Um

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,

E deseja o destino que deseja;

Nem cumpre o que deseja,

Nem deseja o que cumpre.

Como as pedras na orla dos canteiros

O Fado nos dispõe, e ali ficamos;

Que a Sorte nos fez postos

Onde houvemos de sê-lo.

 

Não tenhamos melhor conhecimento

Do que nos coube que de que nos coube.

Cumpramos o que somos.

Nada mais nos é dado.

 


 

Como

 

Como se cada beijo

Fora de despedida,

Minha Cloe, beijemo-nos, amando.

Talvez que já nos toque

No ombro a mão, que chama

À barca que não vem senão vazia;

E que no mesmo feixe

Ata o que mútuos fomos

E a alheia soma universal da vida.

 

Coroai-me


Coroai-me de rosas,

Coroai-me em verdade,


     De rosas —


Rosas que se apagam

Em fronte a apagar-se


        Tão cedo!


Coroai-me de rosas

E de folhas breves.


     E basta.


Cuidas, Índio


Cuidas, ínvio, que cumpres, apertando

Teus infecundos, trabalhosos dias

Em feixes de hirta lenha,

Sem ilusão a vida.

A tua lenha é só peso que levas

Para onde não tens fogo que te aqueça,

Nem sofrem peso aos ombros

As sombras que seremos.

Para folgar não folgas; e, se leoas,

Antes legues o exemplo, que riquezas,

De como a vida basta

Curta, nem também dura.

Pouco usamos do pouco que mal temos. 

A obra cansa, o ouro não é nosso.

De nós a mesma fama

Ri-se, que a não veremos


 

Quando, acabados pelas Parcas, formos,

Vultos solenes, de repente antigos,

E cada vez mais sombras,

Ao encontro fatal —

O barco escuro no soturno rio,

E os novos abraços da frieza stígia

E o regaço insaciável

Da pátria de Plutão.



Da Lâmpada


Da lâmpada noturna

A chama estremece

E o quarto alto ondeia.


Os deuses concedem

Aos seus calmos crentes

Que nunca lhes trema

A chama da vida

Perturbando o aspecto

Do que está em roda,

Mas firme e esguiada

Como preciosa

E antiga pedra,

Guarde a sua calma

Beleza contínua.



Da Nossa Semelhança


Da nossa semelhança com os deuses

Por nosso bem tiremos

Julgarmo-nos deidades exiladas

E possuindo a Vida

Por uma autoridade primitiva

E coeva de Jove.     

  

Altivamente donos de nós-mesmos,

Usemos a existência

Como a vila que os deuses nos concedem

Para, esquecer o estio.


Não de outra forma mais apoquentada

Nos vale o esforço usarmos

A existência indecisa e afluente

Fatal do rio escuro.


 

Como acima dos deuses o Destino

É calmo e inexorável,

Acima de nós-mesmos construamos

Um fado voluntário

Que quando nos oprima nós sejamos

Esse que nos oprime,

E quando entremos pela noite dentro

Por nosso pé entremos.



De Apolo


De Apolo o carro rodou pra fora

Da vista.  A poeira que levantara

Ficou enchendo de leve névoa


    o horizonte;


A flauta calma de Pã, descendo

Seu tom agudo no ar pausado,

Deu mais tristezas ao moribundo


       Dia suave.


Cálida e loura, núbil e triste,

Tu, mondadeira dos prados quentes,

Ficas ouvindo, com os teus passos


    Mais arrastados,


A flauta antiga do deus durando

Com o ar que cresce pra vento leve,

E sei que pensas na deusa clara


   Nada dos mares,


E que vão ondas lá muito adentro

Do que o teu seio sente cansado

Enquanto a flauta sorrindo chora


     Palidamente.


De Novo Traz


De novo traz as aparentes novas

Flores o verão novo, e novamente

Verdesce a cor antiga

Das folhas redivivas.

Não mais, não mais dele o infecundo abismo,

Que mudo sorve o que mal somos, torna

À clara luz superna

A presença vivida.

Não mais; e a prole a que, pensando, dera

A vida da razão, em vão o chama,

Que as nove chaves fecham,

Da Estige irreversível.


 

O que foi como um deus entre os que cantam,

O que do Olimpo as vozes, que chamavam,

'Scutando ouviu, e, ouvindo,

Entendeu, hoje é nada.

Tecei embora as, que teceis, Grinaldas.

Quem coroais, não coroando a ele?

Votivas as deponde,

Fúnebres sem ter culto. 

Fique, porém, livre da leiva e do Orco,

A fama; e tu, que Ulisses erigira,

Tu, em teus sete montes,

Orgulha-te materna,

Igual, desde ele às sete que contendem

Cidades por Homero, ou alcaica Lesbos,

Ou heptápila Tebas

Ogígia mãe de Píndaro.



Deixemos, Lídia


Deixemos, Lídia, a ciência que não põe

Mais flores do que Flora pelos campos,


Nem dá de Apolo ao carro

Outro curso que Apolo.


Contemplação estéril e longínqua

Das coisas próximas, deixemos que ela


     Olhe até não ver nada

    Com seus cansados olhos.


Vê como Ceres é a mesma sempre

E como os louros campos intumesce


      E os cala prás avenas


                 Dos agrados de Pã.

Vê como com seu jeito sempre antigo

Aprendido no orige azul dos deuses,


     As ninfas não sossegam

    Na sua dança eterna.


E como as heniadríades constantes

Murmuram pelos rumos das florestas


       E atrasam o deus Pã.

      Na atenção à sua flauta.


Não de outro modo mais divino ou menos

Deve aprazer-nos conduzir a vida,


     Quer sob o ouro de Apolo

    Ou a prata de Diana.


 

Quer troe Júpiter nos céus toldados.

Quer apedreje com as suas ondas


     Netuno as planas praias

    E os erguidos rochedos.


Do mesmo modo a vida é sempre a mesma. 

Nós não vemos as Parcas acabarem-nos.


     Por isso as esqueçamos

    Como se não houvessem.


Colhendo flores ou ouvindo as fontes

A vida passa como se temêssemos.


 Não nos vale pensarmos

 No futuro sabido


Que aos nossos olhos tirará Apolo

E nos porá longe de Ceres e onde


     Nenhum Pã cace à flauta

    Nenhuma branca ninfa.


Só as horas serenas reservando

Por nossas, companheiros na malícia


     De ir imitando os deuses

    Até sentir-lhe a calma.


Venha depois com as suas cãs caídas

A velhice, que os deuses concederam

Que esta hora por ser sua

Não sofra de Saturno

Mas seja o templo onde sejamos deuses

Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios

Nem precisam de crentes

Os que de si o foram.



Dia Após Dia


Dia após dia a mesma vida é a mesma.

O que decorre, Lídia,

No que nós somos como em que não somos

Igualmente decorre.

Colhido, o fruto deperece; e cai

Nunca sendo colhido. 

Igual é o fado, quer o procuremos,

Quer o 'speremos.  Sorte

Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa

Forma alheio e invencível.


 

Do que Quero


Do que quero renego, se o querê-lo

Me pesa na vontade.  Nada que haja


     Vale que lhe concedamos

    Uma atenção que doa.


Meu balde exponho à chuva, por ter água.

Minha vontade, assim, ao mundo exponho,


     Recebo o que me é dado,

    E o que falta não quero.


O que me é dado quero

Depois de dado, grato.


Nem quero mais que o dado

Ou que o tido desejo.



Domina ou Cala


Domina ou cala.  Não te percas, dando

Aquilo que não tens.

Que vale o César que serias?  Goza

Bastar-te o pouco que és.

Melhor te acolhe a vil choupana dada

Que o palácio devido.



Estás só. Ninguém o sabe.


Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.

Mas finge sem fingimento.

Nada 'speres que em ti já não exista,

Cada um consigo é triste.

Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,

Sorte se a sorte é dada.



Este Seu Escasso Campo


Este, seu ‘scasso campo ora lavrando,

Ora solene, olhando-o com a vista

De quem a um filho olha, goza incerto

A não-pensada vida. 

Das fingidas fronteiras a mudança

O arado lhe não tolhe, nem o empece

Per que concílios se o destino rege

Dos povos pacientes. 

Pouco mais no presente do futuro

Que as ervas que arrancou, seguro vive

A antiga vida que não torna, e fica,

Filhos, diversa e sua.


 

É tão Suave


É tão suave a fuga deste dia,

Lídia, que não parece, que vivemos.


  Sem dúvida que os deuses

 Nos são gratos esta hora,


Em paga nobre desta fé que temos

Na exilada verdade dos seus corpos


    Nos dão o alto prêmio


      De nos deixarem ser


Convivas lúcidos da sua calma,

Herdeiros um momento do seu jeito


    De viver toda a vida

   Dentro dum só momento,


Dum só momento, Lídia, em que afastados

Das terrenas angústias recebemos


   Olímpicas delícias


        Dentro das nossas almas.


E um só momento nos sentimos deuses

Imortais pela calma que vestimos


   E a altiva indiferença

  Às coisas passageiras


Como quem guarda a c'roa da vitória

Estes fanados louros de um só dia


   Guardemos para termos,

                    No futuro enrugado,


Perene à nossa vista a certa prova

De que um momento os deuses nos amaram


     E nos deram uma hora

                   Não nossa, mas do Olimpo.



Feliz Aquele


                    

Feliz aquele a quem a vida grata

Concedeu que dos deuses se lembrasse


       E visse como eles


Estas terrenas coisas onde mora

Um reflexo mortal da imortal vida.

Feliz, que quando a hora tributária

Transpor seu átrio por que a Parca corte


      O fio fiado até ao fim,

     Gozar poderá o alto prêmio

     De errar no Averno grato abrigo

     Da convivência.


 

Mas aquele que quer Cristo antepor

Aos mais antigos Deuses que no Olimpo


     Seguiram a Saturno —


O seu blasfemo ser abandonado

Na fria expiação — até que os Deuses

De quem se esqueceu deles se recordem —

Erra, sombra inquieta, incertamente,


   Nem a viúva lhe põe na boca

  O óbolo a Caronte grato,

  E sobre o seu corpo insepulto

  Não deita terra o viandante.